terça-feira, agosto 17, 2004
A instância amor. Um repost de um texto que me faz ficar boquiaberta.
[May. 23rd, 2004|11:26 pm]
Fazes-me doer o amor, disse eu recentemente. Como se o amor fosse uma instância em mim, que funciona mediante o meu estado de espírito. Ainda que este esteja mau, não encerra nunca, aquela instância. Funciona como a ajuda pública, é como uma ONG. Dá sem esperar receber, mas não haja duvida que funcionará tanto melhor quanto mais contribuições houver. Além do mais, estas têm que ser espontâneas. Ou então serei multada por essa outra entidade em mim, o orgulho. Afinal de contas, sou um pequeno órgão de soberania, eu.
Mas não haja dúvida. Fazes-me doer o amor. Pior que não esperar nada, é ver que realmente não podemos esperar nada, ao constatarmos que nada virá. É como num deserto. Não temos realmente a esperança de encontrar uma fonte no meio daquela areia. Mas não a encontrarmos de facto, custa ainda mais. Não porque o esperássemos. Afinal de contas estamos no meio de um deserto. Mas porque temos sede. E porque disso dependíamos. E lá bem no fundo, acreditamos em coisas boas que acontecem sem razão. Não só em más, mas também em boas. E essas coisas, já as sabemos inesperadas. Só as torna melhor ainda. Mas o facto de as sabermos inesperadas torna a nossa supresa num paradoxo impossível. Denomino isto de surpresas lógicas. Aquelas que, se acontecerem, deixam atrás de si um rasto lógico que se pode seguir, e que nós próprios poderíamos ter seguido se nos apetecesse.
Ainda assim, fazes-me doer o amor. Fazes-me doer o peito, zona física onde se encontra essa instância, o amor. Fazes-me doer esta ONG que trago dentro de mim, e que dá aos pobres. Tira de mim para dar aos pobres. Esta avaliação de “pobres” é que por vezes me trama. Porque, não raro, sou enganada. Os ditos “pobres” afinal são ricos patetas. Que bonita semântica esta. E que rica pateta me saí eu, com estas instâncias idiotas, impossíveis, impensáveis, insanas.
Mas fazes-me doer o amor. Não percebo esta esperança idiota de que ajudar pobres esfomeados de amor os traga para junto de mim. Eu, que até estou bem assim. Eu, que até durmo atravessada na cama, sou chata, deixo sempre a luz do corredor acesa e faço bolos de chocolate a horas estúpidas. Eu, que não preciso de ninguém, enquanto houver xanax e tempo para dormir. Eu, que estou tão bem assim. Adoro este discurso. Adoro este estado. Adoro, abomino estas letras. Rica patetice que saiu este crescente abecedaico. Ricos neologismos estes.
Fazes-me doer o amor. Pode ser que de tanto o dizer as ditas dores de que padeço fujam de tédio. Fujam como uma Lolita abusada e cansada de ser usada. Cansada de rimas e pleonasmos em esses.
Fazes-me doer o amor. Digo-o mais uma vez, como um exorcista que arranca o diabo deste corpo frágil, destes menos de 50 quilos que me pesam tanto ás vezes. Digo-o mais uma vez e pode ser que desapareças da minha instância, pode ser que preenchas ficha num outro órgão de soberania alheio.
Fazes-me doer o amor. E quando me fizeres doer o orgulho, irás passar sem esta ONG orgulhosa e teimosa. Pode ser que um dia venhas fazer contribuições de roupa usada, como eu própria fiz há uns tempos atrás. Não é suposto as ONG’s serem orgulhosas, pois não?
Fazes-me doer o amor, disse eu recentemente. Como se o amor fosse uma instância em mim, que funciona mediante o meu estado de espírito. Ainda que este esteja mau, não encerra nunca, aquela instância. Funciona como a ajuda pública, é como uma ONG. Dá sem esperar receber, mas não haja duvida que funcionará tanto melhor quanto mais contribuições houver. Além do mais, estas têm que ser espontâneas. Ou então serei multada por essa outra entidade em mim, o orgulho. Afinal de contas, sou um pequeno órgão de soberania, eu.
Mas não haja dúvida. Fazes-me doer o amor. Pior que não esperar nada, é ver que realmente não podemos esperar nada, ao constatarmos que nada virá. É como num deserto. Não temos realmente a esperança de encontrar uma fonte no meio daquela areia. Mas não a encontrarmos de facto, custa ainda mais. Não porque o esperássemos. Afinal de contas estamos no meio de um deserto. Mas porque temos sede. E porque disso dependíamos. E lá bem no fundo, acreditamos em coisas boas que acontecem sem razão. Não só em más, mas também em boas. E essas coisas, já as sabemos inesperadas. Só as torna melhor ainda. Mas o facto de as sabermos inesperadas torna a nossa supresa num paradoxo impossível. Denomino isto de surpresas lógicas. Aquelas que, se acontecerem, deixam atrás de si um rasto lógico que se pode seguir, e que nós próprios poderíamos ter seguido se nos apetecesse.
Ainda assim, fazes-me doer o amor. Fazes-me doer o peito, zona física onde se encontra essa instância, o amor. Fazes-me doer esta ONG que trago dentro de mim, e que dá aos pobres. Tira de mim para dar aos pobres. Esta avaliação de “pobres” é que por vezes me trama. Porque, não raro, sou enganada. Os ditos “pobres” afinal são ricos patetas. Que bonita semântica esta. E que rica pateta me saí eu, com estas instâncias idiotas, impossíveis, impensáveis, insanas.
Mas fazes-me doer o amor. Não percebo esta esperança idiota de que ajudar pobres esfomeados de amor os traga para junto de mim. Eu, que até estou bem assim. Eu, que até durmo atravessada na cama, sou chata, deixo sempre a luz do corredor acesa e faço bolos de chocolate a horas estúpidas. Eu, que não preciso de ninguém, enquanto houver xanax e tempo para dormir. Eu, que estou tão bem assim. Adoro este discurso. Adoro este estado. Adoro, abomino estas letras. Rica patetice que saiu este crescente abecedaico. Ricos neologismos estes.
Fazes-me doer o amor. Pode ser que de tanto o dizer as ditas dores de que padeço fujam de tédio. Fujam como uma Lolita abusada e cansada de ser usada. Cansada de rimas e pleonasmos em esses.
Fazes-me doer o amor. Digo-o mais uma vez, como um exorcista que arranca o diabo deste corpo frágil, destes menos de 50 quilos que me pesam tanto ás vezes. Digo-o mais uma vez e pode ser que desapareças da minha instância, pode ser que preenchas ficha num outro órgão de soberania alheio.
Fazes-me doer o amor. E quando me fizeres doer o orgulho, irás passar sem esta ONG orgulhosa e teimosa. Pode ser que um dia venhas fazer contribuições de roupa usada, como eu própria fiz há uns tempos atrás. Não é suposto as ONG’s serem orgulhosas, pois não?
